sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A curva.

Um dia eu conheci um contador, não era um homem formado, padrão e nem praticava a profissão de contador, a verdade é que ele apenas contava "1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11..."... Não conhecia outro estilo de vida, sua vida era contar desde o dia que aprendera os primeiros números, dormia contando e acordava contando, algumas vezes perdia a conta, mas como era natural recomeçava, por gosto.
Gostava tanto de contar que contava quantas vezes ele recomeçava a sua ladainha.As vezes ele se enganava, dizia que era a centésima mas na verdade era apenas a vigésima, e com o avanço da idade seus exageros aumentaram.
Ao chegar na adolescência o contador percebeu que era diferente, que as pessoas em sua volta não ligavam para contagens e que os números eram usados apenas quando era conveniente. "Que desperdício!" tentou então ensinar seus amigos a contar por diversão.
Ah! Como era difícil! Mas um dia ele conseguiu uma aprendiz, uma curiosa na verdade, que tentou várias vezes contar sozinha mas nunca conseguiu e queria alguém para ajudar-la, mas ela tinha um defeito...Era muda.
O contador tentou de todas as maneiras fazer a garota expressar os seus números, mas nem emprestar a voz dele fazia com que ela contasse, queria fazer mais...Em vez de emprestar a voz a ela, ele decidiu presentear-la com voz que lhe sobrava.
Filho de terapeutas, perguntou a sua mãe como poderia passar a voz dele para a garota, afinal terapeuta é um médico. "É impossível filho, vocês terão que viver do jeito que estão e se caso você pudesse dar voz a essa garota, um dia ela poderia se cansar e então cansar de você, seria um esforço em vão."
E no final, a menina não queria e o garoto, descrente de que poderia haver alguma sorte nesse mundo desistiu de tudo, de contar e ajudar. Decidiu ser músico e morar sozinho.

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